Racismo Ambiental

O que é?

Neste site, no menu História da Justiça Ambiental, é possível conhecer um pouco de como começou a luta contra o racismo ambiental. Entender o desenrolar deste movimento é fundamental para a compreensão de seu conceito.

A Justiça Ambiental, além de ser uma expressão do campo do Direito está inserida em um campo de reflexão o qual mobiliza vários sujeitos e entidades, e que tem como desafio analisar o caráter estrutural e civilizatório da crise ambiental, buscando a conscientização da importância de transformações políticas, econômicas, sociais e até mesmo éticas.

Os estudos desenvolvidos neste campo demonstram que, a parcela da sociedade que, de forma mais efetiva, suporta os efeitos dos problemas ambientais, são populações mais vulneráveis, excluídas dos processos de participação política, em desvantagem econômica e que sofrem o que pode ser denominado de Racismo Ambiental.

Racismo ambiental (Environmental Racism) é uma expressão cunhada pelo líder afro-americano de direitos civis, Benjamin Franklin Chavis, que chegou a trabalhar ao lado do Dr. Martin Luther King Jr. na luta contra o preconceito racial nos EUA.

 Benjamin Chavis, que participou em 1982 dos protestos do Condado de Warren na Carolina do Norte pela Justiça Ambiental, já tinha uma história de peso na luta pelos direitos civis.

Também é importante mencionar outra terminologia relacionada à temática socioambiental, o denominado “ecologismo dos pobres”. Esta é uma corrente do ecologismo cuja “ética nasce de uma demanda por justiça social contemporânea entre os humanos”. Ela é defendida pelo catalão Joan Martínez Alier, Economista, ganhador do Prêmio Balzan em 2020 pela "excepcional qualidade das suas contribuições para a
criação da economia ecológica“.

Joan Martinez (2018) dispõe:

 “Sob a bandeira da luta contra o “racismo ambiental” (termo introduzido pela primeira vez pelo reverendo Benjamin Chavis), segmentos de baixa renda, membros da classe trabalhadora e grupos de pessoas de cor fundaram o movimento pela justiça ambiental, conectando os problemas ecológicos com a iniquidade racial e de gênero e também com a pobreza”.

         Sendo assim, observa-se que a degradação ambiental em nosso planeta não é democrática, ou seja, as consequências da destruição da natureza recaem sobre os mais vulneráveis ao passo que, os mais ricos são os que lucram com a exploração dos recursos naturais.

Conhecendo um pouco a história do ativista e criador do termo Racismo Ambiental: Benjamin F. Chavis

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Benjamin Chavis. Foto retirada do site: www.ecycle.com.br

Em 1971, a Comissão Unida da Igreja de Cristo para Justiça Racial (UCC-CRJ) enviou Benjamin Chavis à cidade de Wilmington, na Carolina do Norte, EUA, para ajudar a dessegregar o sistema de escolas públicas.

Na ocasião, houve um incêndio criminoso na cidade em razão de um bombardeio. Atribuíram a culpa destas ações criminosas a nove homens negros e uma mulher branca. Todos eram jovens e entre eles estava Benjamin Chavis.

Eles foram presos e julgados pelo promotor Jay Stroud, o qual fez tudo que estava ao seu alcance para impedir que os 10 fossem libertados.

Primeiramente uma testemunha foi subornada para fingir que estava doente. Nove dos doze jurados selecionados eram afro-americanos. Com o adiamento do julgamento, houve tempo para o júri ser reorganizado. Assim, foram incluídos dez brancos e dois negros. Esta reorganização do júri culminou com uma decisão condenatória que enviou cada um dos dez para a prisão.

Em todo o país, protestos se formaram e a própria cidade de Wilmington explodiu em tiros. Cidadãos brancos correram pela cidade, atirando em cidadãos negros e atiradores negros atiraram na polícia.

Em 1980, depois de cumprir quase uma década na prisão e receber atenção internacional, as acusações contra os 10 presos foram revogadas. Vale ressaltar que, enquanto estava na prisão, Chavis escreveu dois livros: An American Political Prisoner e Psalms from Prison.

Os presos ficaram conhecidos com “Wilmington 10”.

Em 1980, quando a governadora da Carolina do Norte, perdoou o grupo de presos "Wilmington 10", que tinham sido condenados há quase 35 anos prisão, eles se transformaram em um símbolo da luta dos negros pelos direitos civis.

A governadora Beverly Perdue escreveu no comunicado que anunciou o perdão que:

“as condenações estão marcadas pelo mais puro racismo e são uma horrível mancha no sistema judicial da Carolina do Norte”.

Mais tarde, os investigadores também descobriram notas do promotor mostrando que ele preferia jurados que fossem membros da Ku Klux Klan.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. MARTÍNEZ ALIER, J. O Ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. 2a Edição, Editora Contexto, 2018
  2. THOMAS, J. M. The Cape Fear Ran Red: Memory of the Wilmington Race Riot and Coup D’état of 1898. Tese apresentada ao Graduate College of Marshall University. 2019